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O solo: ciclo da vida

     O nosso planeta é chamado de Terra apesar de ser coberto por três quartos da sua superfície de água. A  origem da vida como conhecemos na Terra, veio da água, mas foi no contato  entre a terra e o ar que evoluiu até gerar a espécie humana, que se alimenta de plantas e animais. A água, o solo e o ar que  geraram e mantém as diversas formas de vida existentes estão ameaçados pela ação do homem e seus  modelos de produção insustentáveis.

     O solo pode ser entendido como um organismo VIVO. Ele abriga milhares de microrganismos, como
bactérias e fungos e outros, como minhocas e besouros, que têm diversas funções no solo, alimentando
as plantas que, por sua vez, alimentam esses organismos, fechando, assim, ciclos que garantem
nossa existência.
     O ser humano e tudo que vive na terra fazem parte desse ciclo, que é formado por uma composição
de carbono, oxigênio, água e minerais. Na fase de crescimento das plantas, a clorofila das folhas
verdes as torna capazes de produzir alimentos utilizando-se da luz solar através da fotossíntese,
elementos minerais retirados do solo, da água e do ar, produzindo, assim, colheitas para a alimentação
dos animais e seres humanos. Daí a máxima de que o corpo vem da terra e volta a ser terra, e que a
sua saúde depende da saúde do solo e consequentemente das plantas.
     De geração em geração os agricultores trabalharam a terra numa coexistência harmoniosa, onde a  produção de alimentos em baixa escala não afetava de forma drástica, mas interagia com o sistema desse organismo vivo. Nas últimas gerações foram desenvolvidas tecnologias para a produção agrícola que  atingiu enormes escalas, acompanhando o crescimento populacional.
     O modelo de produção industrial de alimentos explora as terras além de sua capacidade de recomposição de estrutura e nutrientes. As terras se tornam rapidamente improdutivas e são abandonadas, muitas vezes depois da aplicação de muitos fertilizantes e defensivos. Iniciou-se um ciclo  vicioso, onde os nutrientes necessários para recompor o solo são substituídos artificialmente, através de produtos químicos, que desequilibram os solos. Assim aparecem pragas e doenças nas plantações, que  são combatidos com mais produtos químicos, intoxicando o solo, as plantas e os seres humanos.
     Por isso cuidar do solo significa cuidar da vida no Planeta, e para saber cuidar precisamos entender melhor o ciclo da vida, entre planta, solo, micróbios, água, ar e minerais.


  • A formação dos solos
     A cada ano se perdem milhões de hectares de áreas cultiváveis pela erosão e degradação e esse processo é até irreversível. Precisa de 200 a 1000 anos para formar cada 2,5 centímetros de terra fértil. 
     A formação de um solo depende da composição do material que deu  origem à rocha matriz, que é fundamental para definir suas características. As rochas são transformadas por meio de pressão, temperatura, água, vento e outros agentes em pedras e depois em areia ou barro. Esse processo é chamado de intemperismo e pode levar milhões de anos para dar origem aos inúmeros e diferentes tipos de solos. 
     Atualmente a maioria dos solos apresenta suas camadas a partir do horizonte B, considerado o subsolo. Um sinal claro disso são solos com presença de cascalhos, pedregulhos e raízes das árvores expostas.

  • Organismos no solo
     Nos processos de decomposição e renovação do ciclo da vida, os organismos do solo têm como principal função a decomposição da matéria orgânica e fração mineral, disponibilizando os nutrientes para as plantas. Eles se dividem em macro e microrganismos. 

·         Os microorganismos

     Fungos, bactérias, protozoários, artrópodes e algas têm a função de converter os resíduos animais e vegetais em matéria orgânica garantindo a continuidade da vida através das reações resultantes nos processos de alimentação - digestão, secreção – e de morte, mobilizando nutrientes, ácidos e outros elementos. Eles favorecem as condições físicas (porosidade), químicas (disponibilidade de nutrientes) e biológicas (atividades microbianas)
necessárias para que o ciclo se mantenha. É uma comunidade viva, formando na camada superior do solo a maior parte da biodiversidade na Terra. 

Bactérias são os organismos mais numerosos na terra: cada grama de solo contém pelo menos um milhão desses organismos minúsculos unicelulares. Há muitas espécies diferentes de bactérias, cada uma com seu próprio papel no ambiente do solo. Um dos principais benefícios das bactérias é fornecer os nutrientes para as plantas.
 
Fungos ajudam as plantas a decompor a matéria orgânica liberando nutrientes minerais do solo. Alguns fungos produzem hormônios vegetais, enquanto outros produzem antibióticos, incluindo a penicilina.
 
Micorrizas são fungos que vivem dentro ou sobre as raízes das plantas e ampliam o alcance das raízes no solo, aumentam o consumo de água e nutrientes, especialmente fósforo. As raízes colonizadas são mais protegidas dos nematóides que se alimentam de raízes. 

Actinomicetos parecem fungos, mas são bactérias em forma de filamentos. Embora não tão numerosos como as bactérias, também desempenham um papel vital no solo, decompondo a matéria orgânica e transformando-a em húmus, liberando nutrientes. Eles também produzem antibióticos para combater doenças radiculares.

Algas produzem seu próprio alimento através da fotossíntese. Muitas espécies de algas vivem na metade superior do solo e aparecem como uma película esverdeada na superfície do solo após uma chuva de saturação. Elas melhoram a estrutura do solo através da produção de substâncias egajosas que prendem as partículas do solo para formar agregados estáveis em água.

Protozoários são organismos simples que rastejam ou nadam na água entre as partículas do solo. Muitos protozoários do solo são predadores que se alimentam de outros organismos. Ao comer e digerir bactérias, os protozoários tornam o ciclo do nitrogênio da bactéria mais rápido,  disponibilizando para as plantas.

Nematóides são abundantes na maioria dos solos, e apenas algumas poucas espécies são nocivas para as plantas. Tal como outros predadores do solo, os nematóides aceleram a ciclagem de nutrientes.

·         Os macroorganismos

     Minhocas, formigas, cupins ou besouros - complementam o processo de decomposição da matéria orgânica, fixação de nitrogênio e ciclagem de nutrientes.

Minhocas decompõem a matéria orgânica, formando o húmus, e seus caminhos favorecem a passagem de ar e água no interior do solo, aumentam a porosidade e facilitam a penetração das  raízes.

Formigas, cupins e besouros contribuem para fortalecer a estrutura do solo através dos resíduos reciclados, tornando-o mais resistente aos ventos e chuvas, pois ajudam a formar microagregados e a construir poros.
 


Fonte: Projeto Agricultura Familiar, Agroecologia e Mercado - Desenvolvimento Sustentável da Agricultura Familiar no Nordeste. Fundação Konrad Adenauer